Se orientar estratégias e esforços para atrair e fidelizar o turista 4.0 já era tão importante para o turismo antes da pandemia, imagine agora que este acontecimento fez antecipar em muitos anos a evolução que grande parte do segmento apenas sonharia ser possível num futuro longínquo, e que o mercado global já começa a lidar com a emergência do turismo 5.0!

O Panorama atual em Portugal

Olhando em particular para o setor da hotelaria e turismo no nosso país, ainda muito poucos players estão a dar os primeiros passos no digital e a orientar-se para o Turista 4.0 e prova disso são projetos como a plataforma HOTEL4.0 com o cunho da AHRESP e iniciativas como o Turismo 4.0 criado pelo Turismo de Portugal para promover a transição da atividade turística para a economia digital. Foram lançados vários projetos no âmbito desta iniciativa (sendo o NEST – Centro de Inovação do Turismo um dos mais relevantes) que contribuíram, sem sombra de dúvidas, para o fomento de um ambiente empreendedor mais ativo em Portugal, e novas ideias e modelos de negócio foram surgindo no turismo… Mas infelizmente o choque covid-19 representou perdas históricas e somente em 2023-24 deveremos atingir valores pré-pandemia e demasiadas empresas do setor estão em modo de sobrevivência financeira, e com “cash flow” negativos e, por consequência o investimento em inovação, digitalização e estratégias de salto tecnológico acaba por se ressentir!

O Panorama a nível Global

O turismo, que vivia há anos no mundo dos serviços, com pouca ou quase nenhuma inovação tecnológica, devido à pandemia teve que se reinventar, conectar e, sobretudo, inovar para continuar a existir. E a resistência em evoluir e inovar que ainda se encontrava no setor também ac

abou por mudar e esta atividade económica começa a renascer e a perceber que investir em tecnologia avançada ajuda a promover o contacto e as novas relações humanas a que a pandemia nos habituou.

Hoje assistimos à utilização cada vez mais recorrente da Inteligência Artificial em aplicativos, dispositivos e assistentes virtuais inteligentes, a inovações tecnológicas que revolucionam o modo como vivemos, nos comportamos e aquilo que conhecemos a um ritmo sem precedentes! Em 2019, ou seja, ainda no período pré-pandemia, um dos maiores Operadores Turísticos do mundo, já realizava testes tecnológicos com óculos de realidade aumentada em Espanha para maximizar a experiência turística, uma tecnologia sensorial que irá permitir que os turistas explorem virtualmente destinos turísticos, no conforto do seu lar.  Logicamente esta inovação em particular poderá impactar o nosso futuro próximo de formas muito distintas! Será que vai ajudar na tomada de decisão das nossas próximas férias apenas ou que vai ser só mais uma coisa que podemos fazer no conforto do nosso lar e nada mais do que isso? Será que muitos de nós irão preferir “viajar” desta forma enquanto viajar não for 100% seguro?  Teremos que ter em atenç

ão também a gigantes como a Google ou a Amazon, pois possuem quantidades enormes de “Big Data” e já estão a desenvolver formas disruptivas do ecossistema turístico, em particular na distribuição turística, que podem mudar o panorama atual das empresas do setor a nível global. Nos próximos tempos é certo que o Homem poderá vir a desfrutar de novas experiências de viagens, especialmente idealizadas e realizadas com criatividade, rapidez e com um “toque” humano.  E é assim que a nível internacional começamos a testemunhar o surgimento do Turismo do Futuro ou o Turismo 5.0, focado no retorno do fator humano aliado ao uso da tecnologia.

Como é que o setor se pode preparar para a revolução 5.0?

André Oliveira, diretor de vendas da Ontravel Solutions S.A, representante em Portugal do maior Operador turístico do Reino Unido dizia em Junho de 2021 que a nível estratégico, Portugal pela sua dimensão e fragmentação do tecido empresarial turístico terá dificuldade em posicionar-se rapidamente para o “salto tecnológico” do turismo 5.0. Esta nova etapa irá representar uma revolução na distribuição turística, que além de ter que aprender a usar e experimentar com possibilidades já mencionadas neste artigo como a Inteligência Artificial e “Big Data”, terá que se preparar para fazer o mesmo com Realidade Aumentada, e outras tecnologias e desafios que constantes inovações tecnológicas recentes e iminentes irão acarretar. Certamente que nem todos estão na mesma fase de desenvolvimento, mas observamos desde o início da pandemia a uma evolução tecnológica de cerca de uma década em pouco tempo, e se o setor do turismo se focar já na digitalização orientando-se para pequenos investimentos, estratégias e projetos de curto prazo pensadas para a inovação, tecnologia e a investigação a longo prazo, o 5.0 será bem mais fácil de alcançar! Este tipo de foco na gestão empresarial em combinação com uma revolução do sistema educativo em Portugal será crucial para termos valor acrescentado e sermos competitivos face aos nossos concorrentes seja a nível humano, hoteleiro ou da distribuição turística.

Depois dos vários momentos de quarentena no mundo, sabemos que o turismo fará um retorno e recuperação em força, as experiências serão cada vez mais valorizadas, e mesmo que assim não  fosse, iriamos sempre continuar a sonhar com as próximas férias pois, isso é algo intrínseco e natural no ser humano. Todas as ferramentas tecnológicas que forem aparecendo e sendo adotadas vão maximizar o potencial da indústria turística a nível mundial, numa procura crescente por serviços altamente personalizados e de qualidade, onde a hotelaria, atividades turísticas, e a arte do “bem receber” serão sempre os grandes elementos diferenciadores de qualquer destino. Portugal só tem agora que acelerar na transformação e consolidação do Turismo e Hotelaria 4.0 já focado nos desafios inerentes do 5.0 para não ficar para trás nesta corrida e poder ir ao encontro dessa procura e das expectativas do turista do futuro que está a chegar muito mais cedo do que o previsto!